quarta-feira, 27 de março de 2019

Ninho de serpentes

Carlos Nina


Diz um ditado que “o mal do esperto é pensar que todo mundo é besta”. As últimas eleições mostraram o quanto o povo brasileiro é julgado equivocadamente. Em 2018 um segmento significativo da população foi às ruas dizer não à roubalheira desenfreada plantada na administração pública.
Um candidato catalisou esse anseio. Por representar ameaça à bandidagem instalada no Poder, tentaram assassiná-lo. Sua patente era mencionada como sinal de despreparo pelos mesmos que, contraditoriamente, aplaudiram o entusiasta da ignorância, cuja competência comprovada foi a de causar rombos financeiros nunca antes vistos na história do País.

Com um discurso duro, irreverente, eventualmente até grosseiro e ofensivo, o Capitão manteve-se fiel a esse estilo. Seus apoiadores o relevaram, considerando o bem maior: impedir que o País afundasse no abismo para o qual estava sendo arrastado por organizações criminosas que sangraram o País ao longo dos últimos anos, quer diretamente no exercício dos Poderes da República, quer no comando das empresas públicas. Tudo em ousadas negociatas com a banda podre do empresariado nacional e conluio com governos corruptos de países com igual ou pior azar do que o nosso.

Agora o Capitão quer fazer o que prometeu, não cedendo à malandragem da velha política, cinicamente chamada de franciscana, por consistir no toma lá dá cá de favores e propinas. Mas os velhacos não querem deixar. Com trejeitos de meninos mimados, biquinhos e remelexos no pescoço, tentam intimidar e enganar o resistente Capitão, a quem criticam por qualquer tuitada.

Seus detratores, porém, são os mesmos que não reagiram a nenhuma das cenas imorais presenciadas e aplaudidas pela dupla de principais responsáveis pelo desastre a que foi levado o País. Entretanto, os pilantras que sobreviveram à assepsia eleitoral do ano passado não conseguem conter suas origens e se atropelam nas próprias palavras.

O Presidente da Câmara referiu-se grosseiramente ao Ministro da Justiça, dizendo que este era funcionário do Presidente da República e que com ele não manteria diálogo, mas sim com o Chefe do Executivo. Depois, após criticar o hábito do Presidente da República tuitar para seus seguidores, disse que ele deveria era chamar os partidos políticos para negociar a reforma da previdência.

Por que o Presidente da República deveria tratar com os partidos se eles atuam é na Câmara e esta tem um Presidente? Da mesma forma, portanto, se alguma conversa deveria ter seria com o Presidente da Câmara.

Aliás, querer que o Presidente da República interfira nas votações do Congresso é atentar contra a independência dos Poderes. Partindo do Presidente da Câmara tal recomendação seria surpreendente se não fossem conhecidas suas verdadeiras intenções.

Ou será que o Presidente da Câmara pensa que ninguém sabe o que ele quer quando recomenda ao Presidente da República que chame os partidos para conversar?

Compete ao Presidente da República mandar ao Parlamento os projetos de interesse do País. Que o Congresso faça a sua parte e cumpra seu papel. Com responsabilidade, ética, decência. Sem chantagens, barganhas, cargos ou propinas. Pelo interesse do País e não de partidos ou de corruptos que os comandem.

Carlos Nina advogado

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