
O Ministério Público Federal (MPF) denunciou seis pessoas por integrarem uma organização criminosa especializada em fraudes em importações, que recorreu a ameaças, perseguições e ações difamatórias contra um auditor-fiscal da Receita Federal com atuação no Maranhão, Ceará e Piauí. O grupo tentou impedir, de forma violenta e articulada, a atuação do servidor público, responsável por fiscalizar a entrada de mercadorias na 3ª Região Fiscal da Receita.
Segundo a denúncia, apresentada à Justiça Federal no Ceará, os crimes ocorreram entre 2023 e 2024. A organização atuava com estrutura definida e divisão clara de funções. O objetivo era obter vantagens financeiras ilícitas por meio de operações como subfaturamento, contrabando e uso de interpostas pessoas nas importações. O auditor da Receita tornou-se alvo após detectar e combater essas irregularidades, especialmente em cargas que passavam pelos portos e aeroportos da região Nordeste.
A investigação revelou que o grupo criminoso desenvolveu uma série de ações para intimidar o servidor, incluindo ameaças de morte, divulgação de fake news, uso indevido de dados pessoais e até depósitos bancários não identificados, com o intuito de levantar falsas suspeitas de corrupção. Um dos pontos mais graves do inquérito aponta que a organização chegou a planejar um atentado contra o auditor e seus familiares. A execução só não aconteceu porque os supostos autores aguardavam autorização final, que nunca foi dada.
Mensagens de celular analisadas pelo MPF também indicam que o grupo buscou apoio político para pressionar a Receita Federal a transferir o servidor. Parlamentares e ex-governadores foram citados nas conversas como possíveis aliados para interferir na fiscalização. Um deputado federal chegou a encaminhar uma reclamação formal da empresa investigada à cúpula da Receita, segundo consta nos autos.
A denúncia detalha a existência de três núcleos na organização: o de comando, liderado por um empresário apontado como chefe do esquema; o de intermediação, formado por despachantes aduaneiros responsáveis por operacionalizar as fraudes e executar as ameaças; e o de apoio logístico, que cuidava de aspectos técnicos das ações ilícitas, como a compra de chips de celular usados em ameaças anônimas e a publicação de notícias falsas.
Os denunciados responderão pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, denunciação caluniosa qualificada, ameaça, perseguição qualificada, falsificação de documento particular e obstrução de investigação criminal. O processo tramita na 11ª Vara Federal Criminal do Ceará.
O caso gerou preocupação entre autoridades, especialmente por lembrar o atentado sofrido pelo auditor José de Jesus Ferreira em 2008, também em Fortaleza. Na ocasião, ele foi alvejado com cinco tiros no rosto após combater esquemas de contrabando e descaminho. O crime foi encomendado por um empresário posteriormente condenado a 20 anos de prisão.
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