segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Em entrevista ao Jornal Pequeno, Castelo diz que São Luís retrocedeu nos últimos três anos

Vela na ìntegra a entrevista do deputado federal João Castelo:
Castelo diz que a cidade de São Luís está péssima


Atualmente deputado federal, o tucano João Castelo já foi governador, senador e prefeito de São Luís. Nesta entrevista exclusiva ao Jornal Pequeno, o deputado abre o jogo e fala sobre o Brasil, o PSDB e a atual situação de São Luís.
Direto e sem evasivas, o deputado não fugiu de temas polêmicos (como o VLT) e também não se recusou a comentar o desempenho da atual gestão municipal.

JOSÉ LINHARES JR.

Jornal Pequeno - O senhor é pré-candidato a prefeito de São Luís?
João Castelo - O ano eleitoral está apenas começando. Por onde ando em São Luís as pessoas me param para perguntar se realmente serei candidato a prefeito. Desde o ano passado, lideranças políticas e comunitárias também têm me procurado para falar sobre a importância da minha candidatura às eleições deste ano. E, com a minha firme atuação no Congresso, tenho renovado a confiança da executiva nacional do PSDB, o meu partido. Ou seja, é uma decisão que não depende mais de mim, ou somente da minha vontade. Os ventos estão soprando a favor. Mesmo sem declarar que sou pré-candidato, todas as pesquisas me situam em boa posição. Sempre pautei minha trajetória política de acordo com a vontade do povo. Garanto que, quando chegar a hora, tomarei uma decisão pensando no povo.

JP - E o PSDB? O senhor acha que terá a legenda caso decida ser candidato?

Castelo - O PSDB é um partido de gente honrada e que respeita a história de seus filiados. Não é um partido qualquer, que se pauta por caprichos paroquiais. Eu tenho história dentro do PSDB, não sou um aventureiro. Sem querer diminuir ninguém, quem, dentro do PSDB maranhense, tem mais condições e direito do que eu de pleitear a legenda para ser candidato a prefeito? Se houver alguém com densidade eleitoral, com história política e efetivamente com representatividade, vou participar da campanha, ajudo, vou pra rua pedir voto. Mas não tem. Precisamos ser realistas.
JP - O senhor é deputado federal. Como estão as coisas em Brasília? A crise é realmente inevitável?
Castelo - Estamos marchando para tempos difíceis. A preocupação não é apenas minha, é nossa, de todos nós, daqueles que têm responsabilidades e querem ver o país no rumo certo. É muito grave a situação, muito difícil. É preciso que haja seriedade e espírito público para colocar os interesses do povo brasileiro acima de interesses políticos. Até mesmo os estados ricos estão passando por dificuldades. E o país, pelo que se percebe, não tem para onde ir. Nós, como parlamentares, temos a responsabilidade de trabalhar com afinco para que o Brasil estanque a crise e volte a crescer. Esta tem sido a minha bandeira no Congresso: trabalhar por um país mais próspero, com justiça social e oportunidade para todos. Com o país em crise, os estados perdem, a economia não anda e a população padece. Em Brasília, tenho defendido os interesses do Maranhão e dos maranhenses.

JP - E sobre a situação atual de São Luís, o que o senhor tem a dizer?

Castelo - Não costumo falar sobre a gestão dos outros. Mas o que ouço por aí é o povo dizendo que a situação está péssima. Sou uma pessoa muito focada e hoje cumpro com o meu dever lá em Brasília, mas aqui muita gente reclama. São Luís vinha em um processo de expansão com obras importantíssimas entregues, como as avenidas Santos Dummont, Mario Andreaza, Carlos Vasconcelos e Mauro Bezerra e o prolongamento da Litorânea; a estrada do Parque Vitória, o Parque do Bom Menino e o recapeamento total das principais avenidas da cidade. A coisa estava andando, essa é a verdade. Mas, infelizmente, São Luís retrocedeu nos últimos três anos.

JP - O que o senhor classificaria de retrocesso?

Castelo - Por uma perseguição cega e raivosa, alguns programas desenvolvidos na minha gestão foram simplesmente extintos. A Domingueira, que garantia transporte a um preço mais acessível para que pais e mães de família pudessem se locomover nos fins de semana, não existe mais. O Bom Peixe, que garantia pescado de qualidade para tanta gente, também acabou. A Blitz Urbana, um programa que chegou a ter reconhecimento na mídia nacional, hoje caiu no esquecimento. O Leite na Escola, uma das grandes conquistas da gestão passada, também se foi. O VLT, que foi iniciado e poderia hoje estar avançando, teve seus trilhos arrancados e foi esquecido dentro de um galpão. Até a sede nova da prefeitura, no antigo edifício do BEM, que faltava apenas ser ocupada e que iria poupar centenas de milhares de reais em aluguel, está lá jogada às traças. Ao perder esses programas e benefícios, São Luís infelizmente deu um passo para trás nos últimos três anos.

JP - O VLT
é um tema polêmico. Como o senhor avalia hoje esse projeto de mobilidade urbana para São Luís?
Castelo - O VLT era uma coisa que poderia ter continuado e hoje seria símbolo de uma nova São Luís, de uma cidade moderna. Nós compramos o VLT, pagamos, começamos a implantar a primeira linha. Diziam na época da eleição que era mentira, que o veículo era alugado. Está pago, a Prefeitura comprou e pagou. Deveria ter sido continuado. E o que fizeram? A linha, que já tinha mais ou menos um quilômetro, foi destruída pela própria prefeitura.

JP - O que falta então para São Luís?
Castelo - Falta seriedade. Esse é o caminho. Dar continuidade ao que foi feito, aos projetos extraordinários que foram abandonados. A cidade estava mudando, estava melhorando. Todos os que passaram deixaram sua contribuição de alguma forma. Essa cadeia foi quebrada e é preciso retomá-la com urgência.

JP - O senhor acha que, novamente como prefeito de São Luís, poderia superar os graves problemas apresentados com a crise econômica?
Castelo - Quando fui prefeito, politicamente eu era adversário do governo estadual e do governo federal. E isso dificulta muito. O que fiz? Usei minha experiência de administrador, e o Maranhão inteiro sabe disso - fui governador, e até hoje aquele que conhece meu trabalho aprova. Eu faria o que sempre fiz: receberia uma casa toda desorganizada e iria, com planejamento e trabalho árduo, organizá-la dentro do possível. Quando assumi em janeiro de 2009, uma das minhas primeiras medidas foi preparar a cidade para as chuvas, limpando galerias, canais, essas coisas. Enfrentei um verdadeiro dilúvio, aquele inverno foi cruel, e mesmo assim não tivemos problemas durante os quatro anos da gestão. Foi só o João Castelo sair da Prefeitura e os viadutos começaram a virar piscinas em época de chuva. Qual a diferença? A diferença é experiência, e o povo sabe disso.

JP - O atual prefeito afirma que o senhor deixou como herança uma dívida bilionária. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Castelo - Isso é uma inverdade que eu até entendo. Já se passaram três anos e aquele caminhão de promessas da eleição não saiu do discurso. Agora é preciso colocar a culpa em alguém, não é? O atual prefeito - e muita gente que faz parte da gestão dele - estava comigo nos três primeiros anos de minha gestão. O Edivaldo fez parte da base da Prefeitura na Câmara Municipal e em 2010 foi meu candidato para a Câmara Federal. Eu tenho fotos e documentos que provam isso. Ele na minha posse, participando de inauguração de obra comigo e tudo o mais. Depois de um tempo decidiu ir para a oposição. Tudo bem, a política tem desse tipo. Mesmo sendo sabedor da situação da Prefeitura, durante a campanha de 2012 ele não falou nada da tal ‘dívida’. Não disse absolutamente nada. Muito pelo contrário: afirmava que no primeiro dia de governo iria trabalhar bastante. Ora, ele foi vereador da base, como deputado federal ficou alinhado à Prefeitura por um bom tempo, então sabia da situação. Poderia ter usado isso na campanha, não fez. Deixou para usar depois, com o intuito de arranjar culpados por uma gestão que é responsabilidade dele.

JP - A prefeitura pode sobreviver somente com o resultado de parcerias?

Castelo - Quando prefeito de São Luís, fui buscar recurso até em instituições internacionais para os canais que estão aí, parte deles concluída e entregue. Outros não terminaram até agora por incompetência, porque o dinheiro ficou aí. Deixamos recursos federais na ordem dos R$ 400 milhões em caixa para o corredor urbano. A Prefeitura abandonou o projeto aprovado de R$ 400 milhões e a governadora Roseana Sarney tomou de conta. Eu não sei o que fizeram com o dinheiro. E assim a coisa foi acontecendo. Há uma falta de apetite do atual prefeito de trabalhar, de se relacionar com os homens públicos, com o empresariado, com a população. Agora quer colocar tudo isso no colo do Flávio Dino. O governador pode ajudar no que puder. Se não puder, o prefeito deve assumir a responsabilidade. Do jeito que a coisa anda, eu não me espanto se o prefeito culpar o Flávio Dino pelo fracasso nas eleições. Afinal, é só isso que ele sabe fazer: culpar os outros.

JP - E em relação aos outros candidatos, o senhor acredita que eles serão competitivos?

Castelo - Vejo essas pré-candidaturas com a maior naturalidade. Quem quiser ser candidato que seja; é um direito. Se tiver condições partidárias de ser candidato, deve ser. O povo terá opções, vai analisar cada um e escolher. Isso é bom para a democracia, a pluralidade de ideias. Agora, quem pensar que o povo vai escolher pela cara, o garotinho, a garotinha, não é por ai. O povo vai ver quem já trabalhou, quem tem experiência administrativa, quem tem competência, quem dá conta do recado, porque ele está cansado de ser iludido, de ser enganado. Não quero criticar ninguém, mas você não acha que quando o povo de São Luís elegeu esse garoto aí não foi enganado? Foi iludido! Se o Flávio não estivesse aí dando uma ajudinha para ele, estava morto, estava enterrado.

JP - A administração municipal está sendo tocada pelo governador?
Castelo - Ninguém nesta cidade tem dúvidas disso. Esse rapaz passou três anos destruindo o que foi deixado, não tinha condições de fazer, não tem capacidade, não tem experiência. O governo tenta impulsionar, mas não consegue. E sabe o motivo? Porque deveria dar auxilio, não tomar conta. E o que estão exigindo do governo é que tome conta da cidade.

JP - E se o senhor tivesse sido reeleito, como seria a relação com o governo?

Castelo - O governo anterior não me ajudou em absolutamente nada, e eu fiz. Claro que eu iria atrás de parcerias, mas se o atual governo também decidisse por esse caminho, eu iria trabalhar. Não iria ficar choramingando. Iria entregar as obras que deixei. O que eu queria fazer era deixar São Luís bem estruturada. A uma altura dessas o VLT estaria rodando, mais de uma linha. O povo me conhece, sabe que fui governador com 40 anos de idade e até hoje tem obra minha por aí. Quem fez mais por esse estado do que um menino de 40 anos? É só ver e perguntar para quem conheceu João Castelo no governo. Eu continuo com o mesmo espírito público de servir bem a população. Qual o papel de um governante municipal, estadual ou federal? É cumprir sua obrigação e servir o povo. Agora tem que saber trabalhar!

JP - O atual prefeito não sabe trabalhar?
Castelo - O povo diz que não sabe e eu concordo com isso. Eu não tenho nada pessoal contra ele nem contra ninguém, mas eu tenho que fazer a minha análise crítica. Eu não posso perder a minha autenticidade. Eu não sou criticado por ele e seus aliados diariamente? Agora, sou criticado porque trabalho, porque muitos deles têm inveja por eu ser trabalhador e esse trabalho me fazer ser querido pelo povo. O povo sempre me deu tudo, nunca deixou de me dar. Fui deputado agora quase sem sair de casa, e me elegi só em São Luís. O povo conhece meu trabalho e se quiser me dar a oportunidade de ser prefeito de novo, ele vai ver que eu continuo sendo o mesmo Castelo. Até com mais experiência, convivendo com todo o mundo político e atualizado.

JP - Uma segunda gestão seria melhor do que a anterior?
Castelo - Claro que sim. A gente tem que ter hombridade para admitir que poderia ter feito algo mais. A gente sempre pode fazer melhor. Com força de vontade e trabalho.

JP - Algum recado?
Castelo
- Não vou falar para meus eleitores, vou falar para todos. Os eleitores dos outros também merecem respeito. São maranhenses e precisam ter nossa atenção. É uma alegria voltar a falar ao povo. A boataria é tão grande que às vezes é preciso dar uma entrevista para poder acabar com ela. A maior delas, por exemplo, é que tem pessoas por aí que dizem que o Castelo não tem partido. Eu tenho partido! O meu partido, além de me considerar, me respeita. Eu tenho partido em nível nacional e estadual a hora que eu quiser. Se o povo me convocar e mostrar que precisa de mim, que eu volte para a Prefeitura, eu vou voltar. Sou um soldado do povo. Ninguém comandará os interesses do meu partido contra os interesses do povo do Maranhão, nem contra os interesses daqueles que lutaram por toda uma vida no partido para fazer dele o que é, um partido de respeito, de gente séria. Em relação aos que querem me culpar pelo fracasso da gestão deles, eu deixo um conselho: trabalhe. Se tivesse trabalhado, não estaria nessa situação calamitosa. Sempre trabalhei duro e fui recompensado por isso. No meu primeiro ano de governo entreguei uma das minhas maiores obras, que foi a Avenida Santos Dummont. E a cada ano fui entregando mais e mais coisas. Deixei a prefeitura de consciência tranquila, com o senso do dever cumprido. O povo, infelizmente, foi enganado. Tanto que as mensagens que eu mais ouço são as de que antigamente São Luís tinha prefeito, hoje não. Desejo ao povo de São Luís e ao povo do Maranhão muita força para seguir lutando.

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