quarta-feira, 15 de outubro de 2014

O desafio de Flávio Dino já começou

Quando o saudoso Jackson Lago se elegeu governador do Maranhão, o Jornal Pequeno tomou a iniciativa de alertá-lo para a importância daquele momento e da enorme responsabilidade que fora depositada sobre os seus ombros. Quase nada foi levado em conta, a começar pela escolha da equipe de governo. O alerta agora se volta para Flávio Dino, e o Jornal Pequeno foi buscar ‘no fundo do baú’ o que publicou, em primeira página, uma semana após a grande vitória de Jackson, que, naquele momento, era vista como o decreto do fim do império Sarney no Maranhão. Não foi.
No Editorial deste domingo, como em 2006, exatamente uma semana após a grande vitória da oposição, o JP apenas troca os nomes, mas a mensagem é a mesma.
“O governador eleito Flávio Dino tem um desafio histórico em suas mãos e sobre os ombros uma enorme responsabilidade. O desafio consiste em saber construir o novo Maranhão, tarefa para a qual obteve a aprovação da maioria do eleitorado. E tal engenharia começa agora, com a administração das pressões políticas em torno, primeiramente, da formação do secretariado e ocupação dos cargos públicos estaduais. Esta é uma questão crucial para o futuro do projeto político para o qual foi eleito. A responsabilidade é a de corresponder às expectativas nele depositadas pelo povo maranhense, ungido que foi como representante e principal agente da transformação do nosso Estado. 
Caso o governador eleito opte pelo caminho mais fácil – o de fatiar o Estado entre os grupos políticos que o apoiaram e os que estão chegando na onda de adesões – certamente comprometerá os objetivos, que não são mais dele, mas de todos. A divisão política da máquina pública entre os aliados, como se fosse um tesouro conquistado, é da tradição brasileira e maranhense, em particular. Sacrifica-se o êxito dos projetos em nome da acomodação das pressões, mesmo que os interesses políticos não correspondam, exatamente, aos interesses públicos. A mudança que o Maranhão reclama é, sob vários aspectos, radical. A começar pelas práticas políticas. E mudança neste caso significa inverter a equação e submeter os interesses de grupos aos interesses de Estado. Não há que tergiversar nessa matéria. Tomara que o Maranhão sirva de modelo para o Brasil, de como a prevalência do espírito público é revolucionária e transformadora, gerando como retorno às lideranças que assim se comportam o benefício do voto. 
A história tem exemplos de oportunidades perdidas por falta de visão histórica. O ex-presidente Itamar Franco deixou de montar o “ministério de 12 Jatenes”, como ficou conhecida a proposta defendida com paixão pelo senador Pedro Simon à época, pela qual Itamar, empossado depois do impeachment de Fernando Collor, comporia uma equipe de alta competência, constituída exclusivamente pelos méritos dos titulares, para viabilizar um governo de unidade e salvação nacional. O então presidente, no entanto, optou por privilegiar amigos e por fazer alianças políticas e só foi salvo do fracasso completo pela feliz iniciativa, feita na undécima hora, de chamar Fernando Henrique Cardoso para o Ministério da Fazenda e pelo plano Real que dali surgiu. (E temos um exemplo em casa de uma grande oportunidade perdida, quando a oposição venceu as eleições em 2006).
Não estamos sugerindo que Flávio Dino componha um secretariado eminentemente técnico, até porque é preciso a sensibilidade social, própria dos políticos, a ditar as prioridades governamentais em lugar da frieza dos números e das metas fiscais, típica dos burocratas. Mas todos sabem, também, que há políticos e políticos. E que antes de qualquer um deles, por mais importante que seja seu nome, há que estar o interesse público e a meta de transformar este Maranhão numa terra justa e próspera. Não há mais tempo nem espaço para interesses cartoriais, para submissão até mesmo de nomeações de diretores de escolas públicas a interesses de parlamentares. O momento é outro e a linha divisória foram estas eleições.  
O Jornal Pequeno conhece e respeita Flávio Dino, sabe que os maranhenses fizeram uma escolha sábia. Mas este jornal conhece, também, por dever de ofício, a seara das articulações políticas e toma a iniciativa deste editorial como quem faz um alerta, como quem age preventivamente. Este é o papel da imprensa e é nesta trincheira que o Jornal Pequeno estará daqui por diante. Derrotado o grupo Sarney, a cuja resistência essas páginas sempre se colocaram a serviço, este jornal tem muito claro seu novo papel: o de vigilante da esperança do povo do Maranhão, apoiando e criticando o novo governo. Não poderia ser diferente. 
É esta a responsabilidade que está sobre os ombros de Flávio Dino, personagem que este jornal julga estar à altura da missão a ele delegada pela vontade do povo maranhense”. (Editorial do 12 - Jornal Pequeno)

Nenhum comentário:

Postar um comentário